Fidelidade: uma missão quase impossível

Texto originalmente escrito para o extinto site ateistas.com sob o pseudônimo Francisco (Paco) Rafael González

Enquanto as pessoas, em sua maioria, ao serem perguntadas, dirão que nunca foram infiéis, de fato, a maioria delas, já foram de alguma maneira. Assim como existe muitos tipos de gente, existem também várias formas de ser infiel e, quase sempre, é inevitável sê-lo. O que considero mais importante, no entanto, é a forma como alguém desfará seus vínculos de fidelidade.

Ora, o senso comum aponta a infidelidade simplesmente como o ato libertino com alguém fora do relacionamento. Quando se estabelece a relação, sobretudo amorosa, normalmente, a fidelização é um conceito implícito e, raramente, acordos podem ser feitos no sentido da não exclusividade. Estes acordos, que parecem absurdos para algumas pessoas, podem ser a única chave da verdadeira fidelidade. Não obstante, ser fiel é honrar todos os compromissos estabelecidos no acordo de relacionamento e não é necessário que haja adultério para que este acordo seja fraudado.

Cada pessoa reage de forma diferente ao comportamento de outras e a seu próprio. Algumas possuem um tipo de esperteza para enganar sua consciência. É o que ocorre quando um indivíduo, estando dentro de um acordo de relação, se interessa por outra pessoa e, inevitavelmente, vai realizar esta troca. Mas, geralmente, a fará de maneira a sentir-se digno. Vejamos o caso de Maria e João, um casal feliz, até aparecer José. Utilizarei o elemento feminino por considerar as mulheres muito mais engenhosas e criativas no não cumprimento do acordo de fidelidade.

Maria tem um interesse por José e ela descobre ser verdadeira a recíproca. A reciprocidade não é fundamental, mas ocorre na maioria dos casos. Infelizmente, ela está num acordo com João, prometeu jamais abandoná-lo entre outras promessas que costumam fazer os apaixonados. Maria vai ficar com José, de uma forma ou de outra, e ela vai escolher a que lhe faça sentir melhor. Ela poderia, simplesmente, trocar João por José, se desculpar pelo fim do acordo e ser feliz. Mas muitos dilemas morais, opinião das pessoas de fora ou mesmo de João e José, fazem com que este processo de troca seja complexado.

Maria pode terminar sua relação com João, sem alegar que existe outro alguém. Ela poderá usar a desculpa que melhor lhe convier, estas, não faltam em qualquer relacionamento. Uma vez rompido o contrato amoroso, o caso com José poderá começar imediatamente, às escondidas ou não, ou ela ainda se permitirá um tempo. Qualquer que seja o caso, dependerá do seu bem estar, da preocupação com a sua imagem diante das outras pessoas e, quiçá, de si mesma. Mas ela pode não ser tão corajosa para terminar, ou mesmo, não acreditar ser suficiente para salvar sua reputação. Então, ao invés de colocar-lhe fim, ela mina o relacionamento, muda sua forma de ser, sem oferecer explicações, forçando João a romper o contrato. Desta forma, ela estará menos complicada ao aparecer tão cedo com outra pessoa, afinal, para todos os efeitos, João foi quem não foi tolerante e fiel e é mais compreensível, a olhos alheios, a reposição de sua carência.

Existem ainda diversas técnicas que se utiliza, conscientemente ou não, para mascarar a infidelidade. Não estamos tratando do clássico caso de adultério, pois esta configuração não precisa e nem merece ser explicada. Também, não cabe comparação caso a caso. Vivemos em um mundo onde a competição se revela em qualquer seara. Quando tratamos de pessoas queridas, devemos tentar suprimir qualquer tipo de disputa, mas este é tema para outro artigo. O que muitos não imaginam, todavia, são os possíveis danos causados na parte preterida, devido ao sentimento de traição ou mesmo de total ignorância.

A grande questão é: a infidelidade pode ser evitada? E a resposta é muito individual. Ela pode sim, ser evitada, mas com algum custo, talvez da felicidade do sujeito. Quando não se está disposto a pagar este preço, há formas e formas de fazê-lo, e isso vai depender de cada um. A que eu considero mais digna é a honestidade total. No começo da relação podem deixar claro que é algo que poderia acontecer algum dia. Mesmo que isto não fique explícito, o mais correto seria ser totalmente verdadeiro. Maria dizer a João que o deixará porque deseja compartilhar com José do sentimento de interesse. Esta atitude também tem seu preço, mas seja qual for o resultado, este será um resultado real e justo. No fim das contas, o saldo mostrará a força do seu caráter.

Lembre-se que o costume faz hábito e acostumar-se a mentir para se sentir melhor poderá torná-lo uma máquina de engenharia social. Talvez para pequenas intempéries do dia a dia seja um artifício útil, mas não quando se deseja relacionamentos reais e duradeiros com pessoas que são importantes.

Un beso ateísta.

Paco González

1 Comments on “Fidelidade: uma missão quase impossível”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *