Sina

Sim e não, quando não cabe talvez. E, talvez, o sim ou o não seja o sim para outros nãos ou os nãos para outros sims. Dizer não é difícil, dizem. Como não é fácil dizer sim, quando o não é a resposta que já sabemos. É preciso alguma coragem para dizer sim e decidir teu destino como em uma roleta russa.

E, dessa forma, com um revólver apontado na minha cabeça tive que escolher entre um não travestido de sim ao marasmo ou o sim fingindo de não à zona de conforto. Os 5 segundos que decidiriam outros segundos do resto de minha vida. Declinei.

Uma bala na cabeça não permitiria destituir da decisão de apertar o gatilho. Mas outros 5 segundos da mais profunda reflexão superficial possível e a complacência providencial de um interlocutor paciente deram-me a chance de seguir algo que algumas pessoas chamariam de intuição.

Fui disposto a não secar o copo meio vazio. E não faltaram caras e bocas para sugerir o contrário. No meio de tantas dizendo que não, um sorriso sincero pareceu-me dizer que sim. Será minha, minha sina? Resta-me outra vez o eterno dilema do sim e do não, mas, desta vez, a arma não está na minha testa.

Corofobia

Aí você tá na pista, tá de boa, tá tranquilo. Vê outra pessoa, só na dela. Pensa “porque não? Vamos lá, vamos pro ofício”. Tira pra dançar, ela aceita, nem se faz de difícil. “Porque não? Bora ver”. Se aproximam, com um meio sorriso que é o começo de um inteiro. E não é que essa mina tem jeito? E não é que esse cara tem ginga? Caboclo itinerante, carioca gringa. E o que era samba sem cerimônia vira xote. Dança direito, palma com palma, pendurada no cangote, no ritmo do peito, no calor da alma.

É bonito, é incrível, é ótimo. “Opa, pisei no seu pé”. “Tudo bem! Acontece! Já passa!” A coisa vai ficando séria, os dois passos já são três, é valsa. Olha pro lado tem uma pequena interessante. Teu par te puxa, esquece a outra num instante. Está tão bom, “nunca vi ninguém mexer assim, quero isso pra sempre”, que o tempo voa e, no fim, nem os dois e nenhum sente.

Que a terna noite esfria em madrugada, que um par de pés se rende à monotonia, que o seu repertório já não provoca batucada no coração que, com o teu, perdeu a sincronia. Tenta arrumar, mas tem algo diferente. “Não é você, sou eu! Vamos dar um tempo”, diz, pra piorar. Na sua mente “fodeu! Não tenho argumento”. Dois pra “lás” opostos.  Se afastam, com um meio sorriso que é o fim de um inteiro.

Vem outros sons, outros pares, outros desastres e, com eles, a certeza inútil de que eram bons, que podiam ser melhores. No fim, a gente tem a ilusão de que poderia ter feito de outro jeito mesmo sabendo que não tinha como saber, de cada passo, seu efeito. Resta apenas a esperança de que os erros virem acertos numa nova dança.

2014

É engraçado como nossos objetivos de vida podem ficar menos ambiciosos com o passar do tempo. Rememorando alguns que me vem à cabeça…

1989 – Fazer um treinamento de super-herói para ajudar a proteger o mundo.
1992 – Ficar muito rico para comprar comida para qualquer um que precisasse.
1997 – Me tornar um cientista e descobrir a cura de alguma doença mortal como câncer ou AIDS
2002 – Entrar para a política e tentar melhorar o país ou, talvez, minha cidade.
2004 – Criar uma empresa que fosse referência em tecnologia e gestão de pessoas.
2006 – Ganhar dinheiro com um negócio próprio
2007 – Fazer um MBA no exterior… antes terminar a faculdade pelo menos.
2009 – Aumentar os lucros para o meu chefe.
2012 – Fazer uma mulher feliz.
2013 – Pagar minhas contas ou parte delas.
2014 – Foda-se todo mundo, credores, falsos amigos, falsos amores e também os verdadeiros, qualquer indivíduo que não seja um gato ou eu mesmo.

Acho que descobri que ninguém merece nada além do que pode fazer por si.

A lenda da garota que não tinha medo de ser feliz

Reza a lenda que o seguinte caso ocorreu em Muriaé – MG. Uma bela moça, de família conceituada e rica, fazendeiros locais, se apaixonara por um sujeito negro e pobre, que pediu sua mão, como era de costume, ao progenitor. Embora fosse um homem justo e fizesse gosto pelo rapaz, temendo pela reputação da filha, não concedeu. Ela relutou, mas acabou aceitando a decisão com uma condição: queria um garrote, o mais pretinho que houvesse por aquelas bandas e que fosse domado. O pai não entendeu, mas acatou, feliz pela mudança de interesse da menina.

Semanas depois, ela recebeu o animal tal qual solicitara. Amarrou uma corda em seu pescoço, levou-o até a cidade, passeando por todas ruas do lugarejo. As pessoas saiam de casa e das lojas a olhar e comentar a estranha cena. Durante todo o dia não se falava de outra coisa e, no seguinte, ela fez o mesmo, chamando igual atenção. Repetia o trajeto todos os dias, em silêncio, sem dizer a ninguém porque o fazia e comovia o povo cada vez menos. Até que, na outra semana, ninguém mais se importava com aquilo.

Foi quando interpelou novamente “viste, meu pai, alguém se incomoda com tudo que lhe parece impróprio, até acostumar-se com a ideia”. Foi convencido pela astúcia da filha e o casamento ocorreu com toda pompa. Se foram felizes? Essa parte da estória não me contaram.

Pequenos pensares dentro de um Ok

Sabe, bombom, tem distância que é amor e não desprezo. Não é simples ficar longe, também não é muito difícil. És tão pronta! Tanto que, sabe aquela vontade de ter o intangível? Não tenho essa obsessão. Você deveria ser de ninguém. Ou melhor, deveria ser, de todo mundo: patrimônio público. Boniteza que merece mais de um par de olhos.

Mas seu coração, ao menos, é particular. Nós dois sabemos que esse sortudo somente o perde se quiser e não tenho essa expectativa. Sua perseverança é admirável, quem poderia se colocar no seu caminho? É um tipo de ousadia inútil.

Conta também que sou muito preguiçoso. Estás totalmente desconfigurada. Tal acerto não é uma tarefa que me agrada, nem em hipóteses. Talvez, no fundo, eu tenha medo de que, se mexer muito, posso perder o pouco que tenho. Apaixonado, sou um tipo de Midas ao contrário.

De quando em vez, dá vontade de chegar pertinho, nostalgia. É isso. Daqui de longe, tá linda a vista. Só não pensa que é orgulho. Mais que isso, é respeito. Do seu espaço, das suas escolhas, dos seus vícios, dos seus sonhos. Pioneira do meu novo lema: crie inspectativas e se surpreenda. É desse jeito que você me rouba alguns sorrisos inesperados.

Desjejum

Bom dia, amor.

Dormiste enquanto eu estava no banho e agora te vejo toda torta na cama. Te disse que não precisa tentar me esperar, mas acho lindo que o faça. Não vou te despertar, são quase duas da manhã e levantaremos às 7, então te escrevo. Essa rotina de trabalhar, viajar, estudar, viajar, dormir só vale a pena pelo carinho dos teus lábios todos os dias pela janela quando me vou e me recebendo à porta quando chego e otras cositas más.

Sempre queres saber do meu dia, não deixarei este débito em atraso, embora não tenha muito o que dizer: alguns clientes chatos, dois professores desestimulantes e um bom tempo de espera ao ônibus. Pelo menos pude cochilar, o que tem se tornado frequente e automático. Me conta sobre o seu na hora do almoço?

Alguma coisa eu sei! Vi que legendaste novos episódios do teu animé favorito para assistirmos juntos. Vamos ver um filme à noite? Deixei aberto o site do cinema, vai dando uma olhada e decidimos quando eu voltar. Se preferir, pedimos comida e vemos alguns dos DVDs antigos. Pelo menos não vou estragar nenhum final que você já não conheça.

Bom, agora vou deitar ao teu lado, fazer as vezes de Morfeu. Logo vamos nos acordar, nos amar,  nos atrasar e você vai correr para disfarçar tua beleza na caixa de maquiagem. Enquanto acha esta carta, lê e começa a rir bobamente, estou na cozinha terminando o café e te esperando para mais uns beijos.

Te amo. Vem logo!

Eclipse

Eu tive um sonho e era tão real
Em que o amor sobrepunha o mal
Do qual padeço e que quero vencer
A dor de amar e não poder te ter

Tinha uma caixa de fantasia
Era grande, mas estava vazia
O meu destino é triste sem você
E o céu azul começou a escurecer

A lua me tocava
Era fria e brutal
Mas me livrava
Da solidão total

Passei anos e eras
Com a companheira indesejada
Lutei contra o que tinha
E, como tu, morri na estrada

Virei sol e percebi
O meu erro cometido
O astro vil, desprezado
Era o meu amor querido

Te persegui e me perseguias
Mas não ocorreu o encontro esperado
Pois quando eu vinha
Você já havia ido

Quando acordei
Não acordei
E me vi assim
Sem te ver

Quando acaba

Estava escrevendo uma postagem que ia ficando péssima cada vez que mexia nela. Foi aí que achei esse texto do Arnaldo Jabor, que diz muito melhor 99% do que eu queria dizer:

“Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:

– Ah, terminei o namoro…

– Nossa, estavam juntos há tanto tempo…

– Cinco anos…. que pena… acabou…

– é… não deu certo…

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam. Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?

E não temos essa coisa completa. Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama. Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel. Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador. Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível. Tudo junto, não vamos encontrar. Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.

Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona…

Acho que o beijo é importante… e se o beijo bate… se joga… se não bate… mais um Martini, por favor… e vá dar uma volta. Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer.

Não brigue, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar… ou não. Existe gente que precisa da ausência para querer a presença. O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama. Que graça tem alguém do seu lado sob pressão? O legal é alguém que está com você, só por você. E vice-versa. Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós.

Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento. Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia? Gostar dói. Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração… Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.

E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse… A pior coisa é gente que tem medo de se envolver. Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível. Na vida e no amor, não temos garantias. Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear. E nem todo sexo bom é para descartar… ou se apaixonar… ou se culpar…”