Sempre à espera
Pode ser as crianças, o chão de terra, a perspectiva do alto dos meus 1,30m de altura, curioso. Fito o asfalto vazio nessa manhã de feriado e sei que nunca as coisas voltarão a ser como eram, como deviam ser, porque me acostumei que fossem, porque elas simplesmente começam e acabam. O que parece não acabar é essa esperança involuntária de que algo aconteça.
E as vezes acontece, nos cachinhos de uma normalista com uns dedinhos na frente da boca para esconder só um pouco o sorriso tímido, a mão também quase oculta pela manga comprida propositadamente superposta. Acontece, vez ou outra, com um par de ouvidos atentos e semblante empolgado escutando minhas ideias, projetos, implorando, com os olhos, que a inclua.
Tenta acontecer nas promessas de um futuro tranquilo, braços sempre prontos, vigília de cuidados, que finjo acreditar para não ser rude contra tanta gentileza, enquanto livre de brita e piche. O que terá pensado a garota de voz macia que esperava uma nova entrevista? Não, não posso me apegar a essas nuvens… Costumava olhar para o céu e imaginar que estava compartilhando as mesmas constelações. Eu estava lá, eu vi tudo, vi do meu jeito, vi o que eu precisava, não o que precisava.
Ah, meu coração! Como pudera obrigar-te abandonar a janela, à espera do desnublamento? Tens que entender que isso vai acontecer, todavia, não terá os amiguinhos com pés sujos brincando de pique e, tampouco, tua astrônoma favorita d’outro lado. É que não amamos pessoas, mas o tempo que passamos com elas. Então, vamos explorar novos momentos. Sei que também tem estrelas no mar, é pra lá que eu quero ir. Me avise quando estiver pronto, só não demora muito, estou quase indo sem ti.
Achada no mar de areia, ela não se esconde, ela se acha perdida. E acha que nunca será encontrada. Uma linda flor do deserto, com alma fria como a noite e coração cálido como o sol que lhe castiga, decerto, sem alguém que diga “quem faz o monge não é o hábito”. Implorando que passem mais perto, tentando avisar a quem interessar possa, como quisera ter a vida de uma rosa.